quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Duas mortes, dois pesos, duas medidas?

Não dá pra deixar passar em branco o que aconteceu nesse final de semana. Não sei se todas as pessoas ficaram sabendo mas uma garotinha de 4 anos foi violentada e morta por seu vizinho, um açougueiro viciado em drogas, que esfaqueou e deixou o corpo dentro de um balde. Pois é, se você não ficou sabendo do crime, não se assuste. A menina é de família pobre, negra, mora num bairro de periferia, mas não teve tanto destaque quanto o crime do pequeno João Hélio, há duas semanas atrás.
Não cabe aqui fazer uma comparação para saber qual crime foi mais hediondo. Devemos sim nos indignar com a morte do menino João Hélio, mas não podemos achar que o que aconteceu com pequenina (EU NEM SEI O NOME DELA PORQUE NOS JORNAIS SÓ DIZEM "A MENINA" OU "A VIZINHA") é coisa cotidiana, normal ou que "são coisas que acontecem na periferia". Mais uma vez eu digo, ambas as mortes são horríveis, condenáveis e injustificáveis. Assim sendo, ambas deveriam ser destaque e motivo de vergonha e revolta geral.

Lembrei da morte dos Richthofen e a repercussão do caso. Assisti uma reportagem que dizia que naquele mesmo dia, na periferia de São Paulo, um sujeito havia assassinado a mãe à pauladas. Alguém soube disso? Será que só merecem nossa compaixão e perplexidade crimes cometidos em classes sociais mais abastadas? Será que os jornais perceberam que mostrar bundas de modelos e atrizes no carnaval vendem bem mais do que uma notícia terrível como essa? Vai saber, né?

Então eu me pergunto, teria a morte de João Hélio mais destaque do que da menininha de 4 anos porque ele era de classe média e ela da periferia? Temos realmente dois pesos e duas medidas até em situações críticas como essas?

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois é Gê, Vc ainda tinha alguma dúvida sobre os dois pesos e duas medidas que existe neste país quando o assunto é justiça? E a coisa fica pior e mais evidente quando crimes hediondos atingem autores de novelas, filhos de bem-nascidos, figuras ilustres que podem vender muitos jornais e aumentar o ibope.
Por isso que não conseguimos discutir dignamente assuntos tão importantes como a reforma judiciária, a corrupção dos órgãos que deveriam nos proteger, o trafico de drogas, armas e influência, e tantas outras coisas...

Marcia disse...

Thauane... a menininha se chamava Thauane e iria completar 5 anos no dia em que foi enterrada.
É... esse nosso país é um lixo mesmo.
Nem tenho comentários, tá?

Carol Maria disse...

Certeza, a justiça brasileira (seja a 'oficial' seja a comum a todos os nativos) é manca e sem-vergonha. Nenhum dos dois assassinatos têm menos importância que o outro, mas a mídia e a própria sociedade pre-julga o que deve ser 'mais' hediondo ou não. Uma vergonha mesmo. Infelizmente, está cada dia mais difícil manter-se patriota e orgulhoso do Brasil.

Atitude disse...

Gel, vc deu a resposta antes da pergunta...
"Será que os jornais perceberam que mostrar bundas de modelos e atrizes no carnaval vendem bem mais do que uma notícia terrível como essa?" Com certeza!

Aqui na minha região também teve um caso de uma garota que foi estuprada, morta e depois enterrada a menos de 100 metros da própria casa...Horrível e tenebroso, obviamente. Entretanto, o que choca a sociedade (leia-se quem vê TV e lê jornal), é ver que o crime está na sua porta, ou seja, não está só lá na periferia (longe, quase outro mundo) e sim, que pessoas como Suzane também podem matar os pais a pauladas, meninos como João Hélio podem ser arrastados pelas ruas...
Enquanto o crime ocorre lá na periferia a sociedade imagina que é normal...é bandido matando bandido, é uma criança a menos pra virar criminoso e assim vai...pra que divulgar, não é mesmo?
Isso pra mim, são dois pesos e duas medidas que a própria sociedade estabeleceu. "O que me importa e o que não me importa".

Beijão,

Anónimo disse...

Isso sem falar nos homossexuais que são espancados o tempo todo em São Paulo e outras cidades...
No www.midiaindependente.org é que saem essas matérias...