Numa confeitaria legal de uma praia legal de um lugar prá lá de legal que a mídia não pára de divulgar...
A confeitaria lotada, eu esperando pelo atendimento dos trocentosem minha frente e vendo a fila aumentar cada vez mais... Um casal de idosos, cujos passos, lentos, não conseguem superar o tamanho dos próprios pés, chegam ao balcão e perguntam à atendente:
- Como fazemos para sermos atendidos?
- É só pegar a senha, na porta.
Meu coração se apertou, mas rapidamente o atendente ao lado falou algo que prontamente motivou nova resposta da moça ao casal que mal tinha conseguido dar o próximo passo - me pergunto se para desistir do pedido ou pegar a maldita senha.
- O que os senhores desejam?
E eles, então, fizeram seu pedido. Sim, que bom, foram atendidos.
E, ao meu lado, o resmungo venenoso de um ser que beirava, creio eu, a casa dos 50, apesar de eu até "esperar" que as palavras a seguir "até" viessem de alguém jovem. Não me contive, e segui com a "conversa". Educadamente, falando baixo, mas não me calando.
- Não entendo por que eles foram atendidos na frente.
- Porque eles têm direito ao atendimento prioritário.
- Que eu saiba isso só vale para bancos.
- Olha, até onde eu tenho conhecimento, vale para qualquer local de atendimento ao público... Para idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou carregando criança de colo.
- Isso é um absurdo!
- Absurdo é pessoas tão idosas precisarem aguardar quase outras dez serem atendidas, até chegar sua vez.
- É justamente por haver tantas pessoas esperando pela sua vez que eles também deveriam esperar. Afinal, estão bem, saudáveis, até conseguem andar...
Minha imaginação deu voltas, pensando se "idoso que está bem e saudável" é sinônimo de alguém que não esteja se mijando enquando passeia - me desculpem a grosseria - ou tão debilitado que não consiga mais sair de casa. Muitas poderiam ser as respostas que a criatura merecia, mas me contive, seguindo o "diálogo":
- Gostaria eu de, se chegar na idade deles, encontrar atendentes gentis que respeitassem minha condição independente de leis e priorizassem meu atendimento.
- Olha, nós divergimos quanto a esta questão.
- Realmente, discordamos.
E encerrou-se a conversa. Enquanto ainda aguardava minha vez, pude observar (graças a Deus, nem tudo estava perdido), o dono do estabelecimento, ao proceder com a cobrança dos senhores, pedir-lhes que fizessem o favor de aguardar, pois ele providenciaria um local na lotada área "open" em que distribuíam-se as mesinhas e cadeiras para o público que frequentava o badalado lugar, para que os senhores pudessem desfrutar de seu café da tarde com tranquilidade e conforto. E assim o fez. Gentilmente, acompanhando-os devagar, até a mesa que lhes reservou.
Deixo claro que eu mesma só fui bem compreender a real necessidade do prioritário atendimento a uma gestante (independente do período da gravidez, não da obviedade do atendimento à mulher com aquela barriga enoooooorme) ao experimentar pegar uma fila quase cambaleante de tanto sono, ou segurando-me para não ter que sair correndo até o próximo banheiro, ou, ainda, rezando para poder logo me sentar a fim de aliviar o cansaço nas pernas ou dor nas costas. E, depois de saber o que é ter uma criança nos braços, após noites em claro ou mal dormidas, ou em meio a um griteiro ou ainda com o serzinho durante sua refeição, melhor entendi a necessidade deste atendimento, também, como prioritário.
Tudo bem que gravidez não é doença, que a idade chega para quase todos, enfim... A questão é que alguns podem, sim, esperar um pouquinho mais em prol de outros para quem alguns minutos faz bastante diferença. É uma questão, senão de educação, certamente de gentileza.